Abertura
As 12 Noites Santas é uma jornada meditativa inspirada na obra de Rudolf
Steiner, que revelou a Antroposofia para o mundo. Aqui, a explicação histórica,
mística e sagrada do significado desse período que vai do dia 25 de dezembro ao
dia de Reis.
Segundo umantiga tradição cristã, as Doze Noites Santas é o período
que vai da noite de Natal até o dia de Reis.
Através da Luz Espiritual que brilha das estrelas do Zodíaco, as bênçãos
divinas se derramam sobre aqueles que oram e vigiam. Os sonhos nestas noites se
tornam mensageiros do Espírito!
Quando se acendeu no céu a estrela há muito tempo esperada, os Reis
Magos iniciaram a jornada até a Criança que seria o novo Sol do Mundo. Após
doze noites, consideradas sagradas a partir de então, eles puderam alcançá-la e
ofertar o incenso, a mirra e o ouro, em nome de toda a Humanidade, acompanhados dos votos de que o Espírito
Divino pudesse viver no pensar, sentir e querer humanos.
Dos pés à cabeça podemos vivenciar a transformação, de pessoas terrenas
e materialistas, em pessoas espiritualizadas, que olham o mundo com uma visão
espiritual. Vislumbramos a escada de expansão da consciência, que ajuda a dar
nascimento, no último degrau, ao Ser Divino em cada um de nós.
A cada Natal temos a chance de um novo nascimento. E a cada ano, a
oportunidade de uma nova vida. Não podemos nos esquecer disso, pois precisamos
urgentemente de forças espirituais, não apenas para cada um de nós
individualmente, mas para toda a Humanidade.
Na meditação das noites santas, podemos colocar na alma as sementes da
Esperança em relação aos doze meses do ano que entra. Meditando dos pés em
direção à cabeça, podemos almejar a consolidação das forças do nosso ser e a
transformação dessas forças em qualidades verdadeiramente humanas e sagradas.
As 12 badaladas da meia noite do Natal anunciam a vigília, que pode ser
um preparo espiritual, como se as Noites Santas fossem uma prévia dos 12 meses
do ano que se inicia.
As inspirações recebidas das hierarquias espirituais nestas doze noites,
através da meditação, injetam forças no desenvolvimento espiritual ao longo de
todo o ano.
O Evangelho de Mateus nos remete aos mistérios espirituais da
Antiguidade, etapa do desenvolvimento da humanidade na época do assentamento na
região do Mediterrâneo, quando aqueles que eram iniciados desenvolviam a visão
clarividente. Os corpos siderais eram vistos por eles como a manifestação de
seres espirituais em atividade constante e contínua transmutação. A esse antigo estado de consciência clarividente
está associado o surgimento da Astrologia, sabedoria baseada na analogia do
movimento e posição dos astros com o destino humano. Ao fazermos a vigília das
Noites Santas podemos retomar a jornada dos Reis Magos através da ligação com
esta sabedoria, recebendo irradiações das 12 constelações do Zodíaco.
As hierarquias espirituais podem ser contempladas como esculturas, no portão sul da Catedral de
Chartres, a mais importante catedral
gótica da Idade Média. Neste portão, chamado de Portão da Transubstanciação, as
hierarquias formam uma escada ascendente que representa o ensino espiritual.
O aluno vai de degrau em degrau se conectando a esses seres espirituais,
que representam diferentes estados de Consciência. Neste aprendizado, o pensar
e o sentir, integrados, se tornam órgãos de compreensão e de participação no
mundo espiritual.
Os nomes das hierarquias se originaram de um manuscrito de Dionísio, o
Aeropagita, que fundou a primeira escola esotérica cristã da Antiguidade.
Dionísio, um iniciado nos antigos centros de mistérios gregos, renomeou os seres divinos, que eram chamados
na Antiguidade como seres de Vênus,
seres de Mercúrio e outros, a partir de uma revelação do Cristo feita a
ele por Paulo de Damasco.
O Manuscrito escreve os nove níveis de seres divinos associados em
grupos de três hierarquias que participaram da evolução da Terra e do ser
humano.
A primeira hieraquia inclui os Serafins, Querubins e Tronos, que
iniciaram a evolução.
Eles atuam a partir do divino, da esfera macrocósmica, que é denominada
a esfera do Pai, de Deus, de Alá, do amor divino, do grande mistério, da doação
cósmica. Eles são seres de um estado evolutivo anterior ao nosso, tão avançados
em sua evolução que foram capazes de fazer fluir de si a sua própria
substância, dando nascimento ao atual estado do nosso sistema solar.
A segunda hierarquia é formada pelos Kyriotetes, Dynamis e os Exusiai,
ou Elohins. Eles também são chamados de Domínios, Virtudes e Potestades.
Enquanto no processo de configuração do nosso Cosmos a primeira hierarquia
atuou de fora, a segunda hierarquia, de
dentro do processo, acolheu os planos divinos transformando-os em sabedoria,
dando-lhes movimento e forma.
E por último a terceira hierarquia - os Arqueus, ou Principados, os
Arcanjos e Anjos, próximos do ser humano, porque desenvolveram a sua essência
nesta etapa evolutiva em que nós, Anthropos, nos encontramos, e na qual estamos
destinados a nos tornar cocriadores da Evolução.
Rudolf Steiner, filosofo alemão que revelou a Antroposofia ao
mundo, chamava a atenção para o fato de
que o homem autoconsciente deveria
reaprender a vivenciar as hierarquias na sua vida interna como
realidades.
Ele diz que esses seres espirituais vêm ao nosso encontro quando nos
preparamos para conhecê-los, e falarão à
nossa alma primeiramente como pensamentos e sentimentos, e só então os
perceberemos como realidades!
Sergei Prokofieff, um dos dirigentes mundiais da Antroposofia, descreveu
o ensino espiritual de Chartres na tradição da vigília das 12 noites santas.
Ele delineia a escada de expansão da consciência, que ajuda a dar
nascimento, no último degrau, ao Ser Divino em cada um de nós.
Prokofieff faz uma analogia entre este caminho de transformação e o
processo de desenvolvimento descrito por Rudolf Steiner como o caminho de Jesus
a Cristo.
Jesus nasce como a criança arquetípica, destinada a se desenvolver como
um Ser Humano, de tal forma que possa acolher em si o Eu do Cosmo, no Batismo
do Jordão. Este acontecimento místico derramará sua influência por sobre toda a
história da Humanidade, como um grande arquétipo de desenvolvimento espiritual.