Pai,
Eu não me lembro, mas a mãe me disse que quando pequena eu chorava cada vez que o você saía para trabalhar. Dormia no meio da cama, invadia o banheiro e tomava banho junto com você.
Na infância pai não é pai, é super herói. É anjo da guarda, é protetor. Lembro de dizer que você era o homem da minha vida.
E também lembro de você me dizer que eu só poderia namorar depois dos 25 anos, ou só quando eu achasse um príncipe, porque era o que eu merecia e não menos que isso. Me fazia sentir única, linda e uma princesa com coroas invisíveis.
Bem, as coisas foram mudando conforme fui crescendo. Eu já não chorava quando te via partindo, porque eu estava ocupada demais brincando com as minhas bonecas e jogos maneiros que ganhava.
Eu já não te via como o homem da minha vida, porque tinha meninos interessantes na escola e que me faziam suspirar feito boba, quanto eu era de fato. Também já não achava mais poético acreditar que você era meu herói, porque isso era coisa de filmes hollywoodianos.
Por uma fase meio estranha, que nem eu me aguentava, por não saber qual personalidade eu tinha, você me ajudava. Me aconselhava em cada dúvida que eu tinha. E mesmo com o seu super conselho de namorar depois dos 25, eu me entreguei para alguns sapos adoráveis disfarçados de príncipes.
E na decepção, lá vinha você de novo, me vendo soluçar por quem não merecia minhas lágrimas e não vinha carregado de razão dizendo “eu te avisei”, com seu jeito ogro também não me dava colo, isso é coisa de mãe, mas com o coração apertado e de uma maneira leve dizia “você tem que gostar de quem gosta de você”.
Com o tempo a gente aprende a valorizar quem sempre e deixa de lado quem nunca. Família é sempre. Então, pai, me desculpe por todas as vezes que eu me distanciei, me auto convencendo de que mesmo te achando o melhor pai do mundo, os caras da escola mereciam mais a minha atenção.
Me desculpe por todas as vezes que respondi suas broncas, questionando sua capacidade de entender algo sobre relacionamentos ou sobre a vida. Mal eu sabia que o mundo não é cor de rosa e tampouco fácil.
Me desculpe por todas as vezes que eu saí de casa enfurecida por achar que só existe a minha verdade, o meu umbigo. E me desculpe por cada afastamento meu, por mudar as prioridades da minha vida, colocando meus amigos num pedestal e colocando minha família em lembretes no calendário em datas comemorativas.
Amadurecer não é fácil. E você já sabendo de tudo e das façanhas da vida, brigava tanto comigo, tentando me mostrar de um modo sensível que nem tudo são flores, e para assim talvez, me poupar de algumas enrascadas e até de alguns choros.
Portanto, mesmo crescida, os sentimentos que aprendi quando criança são eternos. Hoje eu choro só de imaginar sua partida, continuo sendo sua princesa mesmo sem coroa, encho a boca para falar que você é o homem da minha vida e que sim, existe heróis na vida real e eu tenho o meu.
Só posso te agradecer pela educação simples que me deu e pelos conselhos ricos, quem eu sou hoje é só um reflexo seu.
Obrigada pai, por me amar quando eu menos mereci e quando mais precisei. Eu te amo.
Ana da Mata.