Quando eu partir, não se lamente.
Pode chorar, mas não desperdice muitas lágrimas.
Guarde nossos sorrisos.
Guarde nossos abraços.
Os momentos que pareceram eternos.
Tente lembrar de algumas brigas.
Mas só daquelas em que nos reconciliamos.
Lembre-se do Eu te Amo.
E esqueça do Eu te Odeio dito impensadamente.
Sorria das piadas que fiz.
E esqueça dos palavrões que falei.
Deseje novamente meus carinhos.
Mas esqueça das feridas que abri em você.
Lembre-se dos sorrisos espontâneos.
Mas esqueça dos dias em que me pegou de mau humor.
Lembre-se que fui humano.
Amei humanamente o quanto pude.
Vivi humanamente enquanto pude.
E errei mais do que gostaria.
Mesmo assim, esse momento não me é doloroso.
Tenho que ir.
Tenho mesmo que ir.
Mas levarei pedaços de você comigo.
Deixarei pedaços meus com você.
E quando quiser me encontrar, olhe pro céu.
Procure Deus entre as nuvens.
Procure-me entre Deus.
Você não O verá.
Mas eu te verei.
O simples fato de você procurar por Ele, fará minh'alma mais feliz.
E se em algum momento uma chuva fina vier a banhar teu semblante, saiba que será Deus atendendo um pedido meu, derramando em você todo o amor de meu coração pra sussurrar discretamente:
- Estarei sempre contigo.
acma1953
O caminho longo e sinuoso
Grande sacanagem fizeste com a gente
Adaptação de um texto de Miguel Esteves Cardoso
Grande maldade essa que tu fizeste, embebedámo-nos com Bloody's Mary's e, a certa altura, tu reparaste que eu tinha a mania de desdizer o que tinha acabado de dizer. Eu disse-te que era um tique português. Primeiro afirma-se um disparate ou uma verdade. Depois continua-se “E, no entanto…”
“And yet!”, gritaste, “the two greatest words in any language!” Depois desataste a dar exemplos.
A um homem que te amava e queria casar contigo: “I love you… and yet… I cannot marry you this year”.
Ao barman: “Bem sei que já bebi a minha conta… and yet… apetece-me outro Bloody Mary”.
Prometemos escrever um ao outro. Quando eu falhei mandaste-me um telegrama com duas palavras e três pontos: “and yet…”
Um dia falámos de partidas,depois de uma notícia quase funerária fizeste questão de aparecer a dizer que, quando disseste que estavas pronta para morrer, estavas a ser dramática. Fizeste-nos rir. Prometeste viver até aos 120 anos. Prometeste-nos mais blogs e mensagens.
Mentirosa! Sempre foste a mais sublime das mentirosas. Nem era preciso mentires: eu julgava que ias viver para sempre, como sempre tinhas vivido. Agora morreste e obrigas-me a escrever estas palavras lavado em lágrimas. And yet … E, no entanto, tiveste uma vida feliz. Fizeste o que querias. Amaste e foste amada. Blogaste os artigos e textos mais bonitos, elevados, cheios de humor e tão actuais. Fizeste-nos rir e ser felizes com a tua alegria contagiante.
Já há mais de 40 anos que andavas a falar com Deus, a preparar o teu caminho. Foste uma "pecadora" de primeira and yet… E, no entanto, algo me diz que vais ser muito bem recebida no reino dos céus, se for para aí que combinaste ir.
Deixaste-nos, mas nunca avisaste que nos ias deixar. Deixar tornou-se a tua especialidade. Ninguém se despedia tão bem como tu. Ninguém dava à sola tão depressa como tu, tão bem vestida, com sapatos feitos para percorrer as grandes distâncias do amor e da vida.
Isso não te desculpo, não tinhas o direito de partir sem avisar.
Partiste e, no entanto, continuas cá. Eu vi o tamanho do teu "caderninho" gigante, cheio de textos e projectos.
Espero bem que haja centenas de blogs que tu julgaste que ainda não estavam prontos, mas que estão.
Agora que viajaste escusamos que esses blogs sejam perfeitos, como aqueles que escreveste e publicaste enquanto estavas viva. Enquanto eras viva - estas palavras ainda custam mais a escrever do que a simples palavra “morreste”.
Sabes porquê? Aposto que ainda sabes mais, aí no lugar onde estás, na Tower of God. Porque “morreste” ainda é uma coisa que tu fizeste.
Morreste, que sacanagem.
É uma coisa de que podemos acusar-te; é um verbo que podemos atirar-te à cara. Em contrapartida “enquanto eras viva” já pertence a um passado em que já fizeste tudo o que tinhas para fazer, incluindo morrer. Uma pessoa tem de morrer.
E até a morrer foste uma Lady.
Toda a vida dançaste com Deus e algumas dessas vezes acabaram como poemas, divinos de amor e de vida, escritas por quem conheceu a alegria e a tristeza de amar e viver e viver e amar.
Viajaste e, no entanto, continuas vivíssima para quem já partiu. Hoje de manhã, quando ouvi You Raise Me Up chorei, por ser a primeira vez que o ouvi sabendo que já estavas no Paraíso. E mais uma vez chorei. As canções fizeram o que sempre fazem: encheram-me de força, abriram-me ao medo e à beleza de estar vivo... mas a Saudade, essa me fez cair na realidade e perguntei-me: porquê tu?
Adeus, Belinha, dizemos nós como se não soubéssemos que já lá estás.
Se eu morrer antes de você
Se eu morrer antes de você |
Francisco de Paula Cândido Xavier |
Se eu morrer antes de você, faça-me um favor: Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado. Se não quiser chorar, não chore. Se não conseguir chorar, não se preocupe. Se tiver vontade de rir, ria. Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão. Se me elogiarem demais, corrija o exagero. Se me criticarem demais, defenda-me. Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam. Se me quiserem fazer um demónio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demónio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo. Se falarem mais de mim do que de Jesus Cristo, chame a atenção deles. Se sentir saudade e desejar orar por mim, pode fazê-lo. Eu talvez precise de oração. Se quiser falar comigo, fale com Jesus e eu ouvirei. Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver. E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase: - "Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus!" Aí, então derrame uma lágrima. Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal. Outros amigos farão isso no meu lugar. E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu. Mas, de vez em quando, dê uma olhada na direcção de Deus. Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele. E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele. Você acredita nessas coisas? Então ore para que nós dois vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver direito. https://www.youtube.com/watch?v=L_wEf9_YUGk |
A um ausente
A um ausente |
Carlos Drummond de Andrade |
"Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar. Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora. Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair. Antecipaste a hora. Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas. Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si, o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada? Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança. Sim, tenho saudades. Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste" https://www.youtube.com/watch?v=EsSqemPGyIk |
Bando de cafonas
Ela morreu... mas continua por cá entre nós. Grande actriz, pensadora, escritora. Polémica, mas sincera e verdadeira no que dizia e escrevia.
A minha homenagem, ainda que tardiahttps://www.youtube.com/watch?v=7eH253USQ0A
Bando de cafonas
A Amazônia em chamas, a censura voltando, a economia estagnada, e a pessoa quer falar de quê? Dos cafonas. Do império da cafonice que nos domina. Não exatamente nas roupas que vestimos ou nas músicas que escutamos — a pessoa quer falar do mau gosto existencial. Do que há de cafona na vulgaridade das palavras, na deselegância pública, na ignorância por opção, na mentira como tática, no atraso das ideias.
O cafona fala alto e se orgulha de ser grosseiro e sem compostura. Acha que pode tudo e esfrega sua tosquice na cara dos outros. Não há ética que caiba a ele. Enganar é ok. Agredir é ok. Gentileza, educação, delicadeza, para um convicto e ruidoso cafona, é tudo coisa de maricas.
O cafona manda cimentar o quintal e ladrilhar o jardim. Quer todo mundo igual, cantando o hino. Gosta de frases de efeito e piadas de bicha. Chuta o cachorro, chicoteia o cavalo e mata passarinho. Despreza a ciência, porque ninguém pode ser mais sabido que ele. É rude na língua e flatulento por todos os seus orifícios. Recorre à religião para ser hipócrita e à brutalidade para ser respeitado.
A cafonice detesta a arte, pois não quer ter que entender nada. Odeia o diferente, pois não tem um pingo de originalidade em suas veias. Segura de si, acha que a psicologia não tem necessidade e que desculpa não se pede. Fala o que pensa, principalmente quando não pensa. Fura filas, canta pneus e passa sermões. A cafonice não tem vergonha na cara.
O cafona quer ser autoridade, para poder dar carteiradas. Quer vencer, para ver o outro perder. Quer ser convidado, para cuspir no prato. Quer bajular o poderoso e debochar do necessitado. Quer andar armado. Quer tirar vantagem em tudo. Unidos, os cafonas fazem passeatas de apoio e protestos a favor. Atacam como hienas e se escondem como ratos.
Existe algo mais brega do que um rico roubando? Algo mais chique do que um pobre honesto? É sobre isso que a pessoa quer falar, apesar de tudo que está acontecendo. Porque só o bom gosto pode salvar este país.
Fernanda Young