Kidfull

 
belépett: 2007.10.29
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Omaha Póker

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2 év 78 nap

Primeira depilação


A PRIMEIRA DEPILAÇÃO


"Tenta sim. Vai ficar lindo."

Foi assim que decidi, por livre e
espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu
ia me sentir dez quilos mais leve. Mas acho que pentelho não pesa tanto assim.
Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa. Eu
imaginava que ia doer, porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria.
Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma
indústria pornô-ginecológica-estética.

Tudo bem! Peguei o telefone e
ligue para o salão:
- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.
- Vai
depilar o quê?
- Virilha.
- Normal ou cavada?

Engasguei. Eu lá
sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer
direito.
- Cavada mesmo.
- Amanhã, às... Deixa eu ver...13h?
- Ok.
Marcado.

Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves,
porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar
chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim que cheguei, Penélope
estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela,
legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado. Saímos
da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do
outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas.
Uma mistura de “Calígula” com “O Albergue”. Já senti um frio na barriga ali
mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma
maca, cercada de cortinas.

- Querida, pode deitar.

Tirei a calça
e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca. Mas a Penélope mal olhou
pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os
aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar
cabelo, uma pinça. Meu Deus, era “O Albergue” mesmo. De repente ela vem com um
barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas
fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a
amarrou bem forte.

- Quer bem cavada?
- .é... é, isso.


Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da
Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.

- Os
pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda.
-
Ah, sim, claro.

Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia.
Mas confiei.
De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula
melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).

- Pode abrir as
pernas.
- Assim?
- Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os
joelhos e depois joga cada perna pra um lado.
- Arreganhada, né?

Ela
riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cêra quente em minha
virilha virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar.

Foi
rápido e fatal. Tive a estranha sensação que o meu clitóris tinha saído
embrulhado nos pentelhos. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que
apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar. Achei que
havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já
cogitando a possibilidade de ligar para o Resgate. Tudo isso buscando me
concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural.


Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia
esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.

- Tudo ótimo. E
você?

Ela riu de novo como quem pensa "que garota estranha". Mas deve

ter aprendido a ser simpática para manter clientes.

O processo medieval
continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de
minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande
sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam a todas porque se cansam de
sofrer sozinhas.

- Quer que tire dos lábios?
- Não, eu quero só
virilha, bigode não.
- Não, querida, os lábios dela aqui ó.

Não,
não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios? Putz, que idéia. Mas topei. Quem
está na maca tem que se ferrar mesmo.

- Ah, arranca aí. Faz isso valer a
pena, por favor.

Não bastasse minha condição, a depiladora do lado
invade o “centro cirúrgico” de Penélope e dá uma conferida na Abigail.

-
Olha, tá ficando linda essa depilação.
- Menina, mas tá cheio de encravado
aqui. Olha de perto.

Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria
balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e
pedi que fosse um pesadelo. "Me leva daqui, Deus, me teletransporta". Só voltei
à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.

- Vou dar uma
pinçada aqui porque ficaram uns pelinhos, tá?
- Pode pinçar, tá tudo
dormente mesmo, tô sentindo nada.

Estava enganada. Senti cada picadinha
daquela pinça filha da puta arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida.
E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.


- Vamos ficar de lado agora?
- Hein?
- Deitar de lado pra fazer
a parte cavada.

Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de
ladinho e fiquei esperando novas ordens.

- Segura sua bunda aqui?
-
Hein?
- Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.


Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de
cara para ele, o olho que nada vê. Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela
cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar e até peidar na cara dela,
para envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O
marido perguntaria:

- Tudo bem, Pê?
- Sim... sonhei de novo com o
ânus de uma cliente peidando na minha cara.

Mas de repente fui novamente
trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu
Twin Peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da
situação. Sei que ela deve ver dezenas de ânus por dia. Aliás, isso até alivia
minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me
veio o pensamento: “peraí, mas tem cabelo lá?” Fui impedida de desfiar o
questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num
puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia
sobrado nem uma preguinha pra contar a história. Mordia o travesseiro e gemia ao
mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.

- Vira
agora do outro lado.

Ai meu Deus! Porque essa filha da puta não arrancou
tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha da bunda. Nisso a broaca
da salinha do lado novamente abre a cortina.

- Penélope, empresta um
chumaço de algodão?

Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos.
Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando
pra quem? Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo
Penélope. E agora a vizinha inconveniente.

- Terminamos. Pode virar que
vou passar maquininha.
- Máquina de quê?!
- Pra deixar ela com o pêlo
baixinho, que nem campo de futebol.
- Dói?
- Dói nada.
- Tá, passa
essa merda...
- Baixa a calcinha, por favor.

Foram dois segundos de
choque extremo. Baixe a calcinha, como alguém fala isso sem antes pegar no
peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da
perereca ao cu. O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi
até bem agradável.

- Prontinha. Posso passar um talco?
- Pode, vai
lá, deixa a bichinha grisalha.
- Tá linda! Pode namorar muito agora.


Namorar...namorar... eu estava com sede de vingança. Admito que o
resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais. Queria matar
minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso.
Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada.

Bem, esta
foi a minha primeira depilação e, a partir daí, fiquei acostumada. Agora faço
até bigodinho estilo Hitler.