A Minha alma tem vivido um silêncio mais acentuado do que tantos outros silêncios vivenciados por ela. Não me refiro ao silêncio causado pela falta de palavras de pessoas que estão à minha volta ou que fazem ou fizeram parte do meu relacionamento. Sem dúvida alguma, também esse silêncio incomoda, quando existe. E muito! Principalmente se parte das pessoas que amamos e das quais gostaríamos de sentir o abraço da palavra proferida, verbalmente ou por escrito.Entretanto, hoje estou referir-me a um silêncio que é, de certa forma, indescritível. Ou melhor: possivelmente, por mais que eu tente encontrar como descrevê-lo, dificilmente eu conseguiria fazer alguém entender o que ele representa, realmente, para mim, neste momento. Excepto, creio, para aqueles que possam estar a viver um momento semelhante a este e que também não sabem como descrevê-lo. E, diz o adágio, para bom entendedor, meia palavra basta, não é? Então vou tentar... Pois bem, há muito, muito tempo, venho a somar experiências que, se de um lado me permitem a evolução espiritual que tanto quero e preciso, pois é este o motivo que nos traz à vida terrena, permitindo-me conhecer melhor a mim mesmo e ao ser humano que, infelizmente, pratica, cada vez mais, o egoísmo, a vaidade, a prepotência, o orgulho, a mesquinhez, a mentira, a imaturidade observada nos seus actos e no seu poder de comunicação (apesar da evolução, em todos os sentidos, que o próprio homem conquistou com a sua inteligência e sabedoria), por outro lado, ele vai-se instalando bem lá no fundo, como se quisesse me isolar, isolar o meu íntimo do contacto com o mundo exterior, com pessoas que são ou se tornaram “experts” na arte de magoar ou humilhar as outras, limitando-se ao seu egoísmo, ao seu exclusivo bem-estar, não se importando se, para tanto, é necessário praticar actos que a façam passar como tractor sobre o quê ou quem encontram pela frente. Óbvio que toda a regra tem excepção, mas creio que essas excepções têm passado longe de mim! Se por um lado tudo isso me ajuda a evoluir como pessoa, como ser humano e também espiritualmente, pois tenho praticado e exercido a arte da paciência, do perdão, da compreensão, da perseverança, do reconhecimento às qualidades não expostas (ou expostas mas pouco depois mascaradas) dos seres, por outro lado tenho, também, praticado a arte do isolamento. Melhor dizendo, a arte do calar-se, do evitar expor os verdadeiros sentimentos, os pensamentos mais íntimos, o que, para mim, significa ausência de autenticidade. Também entendo isso como uma espécie de representação teatral, pois esse modo de apresentação ante outra pessoa é, para mim (repito), uma presença sem alma, sem sentimentos profundos, ainda que sinceros. Quando vemos um actor ao apresentar o seu personagem, parece-nos que ele vive, no seu interior, profundamente, aqueles sentimentos. Mas todos sabemos que isso nada mais é do que a entrega da alma ao personagem, que pode nada ter a ver com o actor. Não quero, com isso, dizer que tenho-me apresentado sem sentimentos, sem sinceridade, sem lealdade, sem alma, teatralizando, representando ou mentindo. Nunca! Isso nunca fiz e nunca faria! Não sei se conseguem-me entender, mas o que quero expor aqui é que o facto de ter que manter um controle sobre o que sinto ou penso, não podendo gritá-los aos quatro cantos do mundo, até porque nem sussurrando e nem aos gritos eles seriam ouvidos ou compreendidos ou partilhados, me dá a sensação de que alguém me tira o direito de ser autêntico, de expor a minha alma da forma como ela é, como ela está no momento em que esse grito (ou sussurro) está a ser sufocado. O melhor nisso tudo é a certeza de que, pensem o que quiserem ou optarem por pensar, sinto uma paz imensa, aquela que só pode existir quando somos fiéis e sinceros a nós mesmos em primeiro lugar e, aos outros, em seguida; aquela paz que só tem valor quando perdoamos com sinceridade, porque o perdão que damos é mil vezes mais importante e mais benéfico, além de mais puro, do que o perdão que recebemos; aquela paz que só é completa quando existe a certeza de que sempre fomos fiéis aos nossos sentimentos; aquela que só tem razão quando temos consciência de que nunca traímos quem amamos, qualquer que seja a forma de traição, dizer que nunca atribuímos a outros os nossos próprios erros, tampouco ouvindo e dando crédito a quem não conhecemos, em detrimento do crédito que deveríamos dar a quem nos ama e conhecemos profundamente, ou batendo em portas erradas para manifestar o nosso despeito, visando manchar a dignidade do outro; ou, ainda, negando os nossos sentimentos verdadeiros, qualquer que seja o motivo que nos leva a negá-los; ou buscar, em alguém, um aliado, visando denegrir (até para si mesmo) a imagem de alguém. A paz que traduz a leveza da consciência por sabermos que, em momento algum, negamos amizade, carinho, compreensão, convívio saudável, terno e honesto a quem quer que seja. Por termos a certeza de que a humildade nunca significou submissão ou concordância com actos e palavras que denotam a expectativa de alguém se apresentar superior a qualquer outro ser ou se julgar um deus ou o supra-sumo da inteligência, mormente ante aqueles que o estimam, o respeitam, o amam; a certeza de jamais termos nos omitido ou deixado de dar atenção a quem nos procurou ou se manteve ao nosso lado.
Não afirmaria, em hipótese alguma, que nunca errei. Claro que cometi erros crassos como todo ser humano. Mas nunca os atribuí, ou a sua responsabilidade, a ninguém! Pelo contrário, sempre os reconheci e me arrependi sinceramente, quando os detectei, de tê-los praticado. E o que nos faz crescer é exactamente isso: reconhecer os nossos erros, nos arrepender de tê-los cometidos e nos esforçarmos ilimitadamente para não mais cometê-los. Todavia, apesar dessa paz imensa que me eleva e eleva os meus pensamentos e agradecimentos ao meu verdadeiro amigo, é inevitável passar por tantos acontecimentos que, somados durante tanto tempo e que realmente me abalaram profundamente, sem sentir esse silêncio que paira. Um silêncio ensurdecedor que me leva as mãos aos ouvidos, na esperança de não mais ouvi-lo. Um silêncio que está dentro de mim e que não pode, não deve e não será exteriorizado porque no meu aprendizado, infelizmente, aprendi que, no geral, as pessoas querem que digamos apenas o que elas querem ouvir, sob pena de as perdermos para sempre. Para sempre? Claro que não! Ninguém cruza a nossa vida por acaso e, diante desta convicção, eu tenho certeza de que, num outro momento, as nossas vidas voltarão a se cruzar até que ambos tenham consciência de que não nos é possível caminhar através de estradas paralelas. Enquanto isso, cubro a cabeça com a minha almofada, tentando não ouvir os gritos desse silêncio ensurdecedor que me tira o sono!
PAPAGAIOMUDO
MARINGA PR
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O caráter de um homem é formado pelas pessoas que escolheu para conviver. (Sigmund Freud )
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