Confiar não é para os apressados, mas representa o retorno de uma longa viagem mental.
É a velhice dos nossos hábitos, a velhice das nossas frases, a velhice de nossos juramentos.
É quando um gesto recebeu a proteção do silêncio.
Quando alguém confia sem conhecer, na verdade, está esperando confiar.
É uma aposta para tornar mais fácil a convivência.
Demonstramos despojamento no início das relações, mas somos complexos no decorrer da cumplicidade.
Entregamos a chave da nossa casa para perguntar todo dia se o outro não extraviou.
E perguntar é desconfiar.
No máximo, confiamos desconfiando. Com o pé atrás e um olho lá na frente.
Confiamos com medo de confiar, sofrendo o receio de ser enganado, tremendo por depender de alguém, temendo
pela nossa vulnerabilidade.
Assim como o amor.
Falamos que amamos antes de amar, para nos convencer de que é amor.
Falamos que confiamos antes de confiar, para nos convencer de que é amizade.
Confiar é se desiludir, é se frustrar, é se decepcionar.
Assim como o amor.
É criar as mais altas expectativas e depois se acomodar com o que é possível.
Como o amor.
É aparecer com todas as certezas do mundo de que aquela é a pessoa certa e descobrir, aos poucos, que ela
mente e pensa torto como você.
Confiar dói.
Como o amor.
Ainda mais quando a confiança é quebrada e não há como restaurá-la com discussões, colá-la com desculpas,
consertá-la com declarações grandiloquentes.
Confiar é ter uma relação única com alguém, inimitável, e não dividi-la com um terceiro.
É o contrário da falsidade, que significa ser igual com todos fingindo diferença e exclusividade.
Deixar de confiar é deixar de amar - perde-se junto a admiração, o alumbramento e o respeito incondicional.
Deve-se desamar para amar de novo.
Fabrício Carpinejar