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O caráter de um homem é formado pelas pessoas que escolheu para conviver. (Sigmund Freud )
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AS ESTAÇÕES DA VIDA


AS ESTAÇÕES DA VIDA

Gosto
de falar das estações da vida. Nós vivemos e, infelizmente, passamos.
Somos caminhantes, seres de passagem. Perguntaram ao poeta Jorge Luís
Borges: “Você não te medo de morrer?” Ele respondeu: “Não! Tenho medo de
não morrer.” É belo estar de passagem. É belo ser peregrino. É belo
constatar que a nossa estrada é sempre uma ponte...

            
A primeira estação é a primavera, estação das flores, onde os nossos
valores são compatíveis com os de um parquinho de diversão. É a ocasião
do desenvolvimento psicossomático, do desabrochar juvenil. Esta é a
primavera da existência, bela e florida.

              Depois podemos inaugurar a juventude do verão. O verão é quando deitamos nossas
raízes no solo da cidadania e nos fazemos seres da humanidade. É lindo o
verão. É quando estamos sendo úteis, quando estamos buscando realizar
uma promessa que fizemos a nós mesmos quando nos convocamos a encarnar
neste espaço-tempo. Trata-se, então de transmutar os valores da
primavera nos valores do verão.

Depois vem o outono, a estação
dos frutos. É quando nossas árvores ficam carregadas e temos que
oferecer flores transmutadas em frutos. Não, o outono não é velho. O
outono é a estação da vida que me informa que tipo de pessoa eu sou, ou
que tipo de indivíduo estou me transformando. O outono é velho? Velhice
é, no outono, querer viver a primavera. Velhice é paralisia do processo,
é não se atualizar. Jung dizia que, após 35 anos, os problemas são
fundamentalmente espirituais. É no outono da existência que precisamos
transmutar os valores do ter, do poder, do parecer, para os valores do
ser.  Transmutar os instrumentos de uma psicologia da juventude, como a
de Freud, calcada no prazer. Jung, assim como Viktor Frankl, desenvolveu
uma psicologia para o homem e a mulher da maturidade, que chegam ao
outono da existência e onde é preciso que o Ego dê passagem ao Self sem
se auto-destruir. Há um ditado hindu que diz: “O Ego é o melhor
empregado e o pior patrão.” Trata-se de abri-lo para o norte do ser e do
amor.

              Finalmente, se caminharmos bem no outono,
chegamos à juventude do inverno. É quando nos recolhemos. É a estação da
prece, do silêncio. Nela constatamos que caminhamos toda uma existência
para, ao final da viagem, retornar à nossa própria casa de onde jamais
partimos. Nossa tarefa: APRENDER A AMAR!

AMOR, A TERAPIA DO UNIVERSO

OS 4 TIPOS DE AMOR

O Dharma fundamental do ser humano é aprender a amar. Estamos aqui hoje
porque não sabemos amar, eis um fato. Falamos, e muito
inconsequentemente, que amamos. No que me toca, estou aqui porque não
sei amar plenamente. E aprendemos a amar através do encontro. É sábio
perceber que ninguém cura ninguém, e que ninguém se cura sozinho.
Curamo-nos no encontro, se houver encontro. É através do encontro que
ocorre a alquimia transformacional: o encontro com o próprio ser, com o
outro, com a natureza, com o mistério inefável.     

          
   Importa indagar: Por que não é fácil amar? Por que não é simples amar
e ser amado? Diante dessa perplexidade, pode ser bastante útil buscar
uma inspiração na reflexão anterior, sobre os pressupostos
antropológicos.

Os pressupostos materialista e somático indicam a
primeira estação do amor, a infância, nesta grande Odisséia que é
aprender a amar. O s gregos usavam uma palavra para este primeiro
estágio, representado pelo bebê sugando o seio da mãe: Pornéia. O amor
da criança é o amor físico da fome, da sede, dos reflexos primitivos,
sendo a forma de amor que permite a criança buscar a mãe para ver
saciados seus instintos básicos e mais primitivos de sobrevivência.  

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              De Pornéia deriva a palavra pornografia, que é o amor do
bebê que precisa mamar, comer, sugar o outro. O normótico se reduz a
esse tipo de amor porque reage de forma instintiva tentando sugar,
consumir o outro, exaurir o outro para encontrar-se. Se nos limitarmos
ao jardim da infância do amor, não haverá história para ser contada no
futuro.

              A segunda estação, o amor Eros, é o amor do
adolescente; o amor, também, muito justo, regado ao encanto e a entrega
imediata porque Eros simboliza o fogo ardente, a paixão avassaladora
que não pensa no amanhã. É o amor no qual você busca a felicidade, você
vai na direção do outro para ser feliz com ele. Se não é feliz
“adolescentemente”, culpa-se o outro pelos encantos desfeitos, culpa-se o
outro porque não foi permitido parar para ver o outro no fogo de Eros; e
isto está muito em voga. Para preencher vazios, reinicia a busca  por
alguém que se interponha na ausência de papai e de mamãe na vida
afetiva. Portanto, o amor adolescente é também o amor do normótico.

Mas há um momento em que se compreende que ninguém pode nos dar felicidade.
A felicidade é uma conseqüência natural de você ser quem é. Nem mais,
nem menos. A felicidade é uma irradiação natural quando você é inteiro,
verdadeiro, pleno, total. Vem, então, aquela estação e estado de Philia,
o amor da troca, da parceria, quando você vai na direção do outro para
aprender a ser humano com o outro, aprender a amar com o outro. Esse é o
amor dos companheiros, é o amor da sinergia, é o amor da parceria.
Philia é o máximo a que poderemos chegar na arte de amar, enquanto seres
humanos.

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              A última estação do amor, aquela que transcende os planos,
é o amor incondicional, supremo, o amor gratuito, o amor divino e
transpessoal, o Ágape: o amor que é maior que o coração humano. E quando
você ama em Ágape, você está trazendo para a humanidade o que está além
da humanidade. Esta é a tarefa fundamental da existência: caminhar na
direção daquela promessa que fizemos e aprender a amar. 

O Espírito na Saúde, Editora Vozes




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