Ela sabe que é um pensamento improdutivo, mas mesmo assim se preocupa com a passagem do tempo, parece uma menina assustada diante do acúmulo de números que sua idade vem ganhando.
Não entende onde foram parar seus 16 anos, seus 21, seus
29, seus 35, seus 42.
Ora, onde eles podem estar? Todos ainda dentro dela.
Ao assoprar as velas, a sensação é a de que o passado também se apaga e um
presente totalmente novo é inaugurado. Sendo virgem da nova idade, é como se
estivesse nascendo naquele específico dia com pequenas rugas e manchas surgidas
subitamente, e não trazidas do antes.
Como
se estivesse vindo ao mundo na manhã do festejado dia com os quilos, as dores e
os limites de um adulto recém-nascido e com uma expectativa de vida mais curta,
sem nenhum registro do tempo transcorrido até ali, aquele tempo que sumiu.
Sumiu nada.
Você tem seus 16 anos para sempre.
Seus 21.
Seus 25 e todos os outros números que contabilizou a cada aniversário:
você tem oito anos, você tem 19, você tem 37.
Você só ainda não tem o que virá, mas os anos que viveu ainda estão sendo vividos, são eles que,
somados, lhe transformaram no que é hoje.
Sua idade atual não é uma estreia, você não nasceu com esses anos todos que sua carteira de identidade
diz que você tem.
Só o dia do seu nascimento foi uma estreia.
Desde então você nunca mais saiu de cena.
Ainda
estão em curso seus primeiros minutos de vida.
Você ainda sente o nervosismo das primeiras vezes, as mesmas dúvidas diante das
escolhas,
o afeto por pessoas que foram importantes lá atrás, a adrenalina dos riscos corridos.
Nada disso evaporou.
O ontem segue agindo sobre você, segue interferindo na sua trajetória.
É a mesma viagem, a mesma navegação.
O
meio de transporte é seu corpo, e ele ainda não atracou.
Mas e todo aquele peso extra que você um dia jogou ao mar?
Não muda nada.
A viajante que durante o percurso vem se desfazendo de algumas coisas continua sendo você.
Aquele instante aos 19 anos ou aos 26 em que você cruzou o olhar com alguém que modificaria seu futuro continua acontecendo, o ponteiro continua se mexendo, o tempo não parou.
Desiludem-se os amantes apaixonados que, quando se instalam num amor maduro, não encontram mais a mágica anterior que fazia o tempo parar, mas não se deve ser tão fatalista,
você não tem 18 anos, ou 37, ou 53.
Você tem 18, 37 e 53.
No que tange o tempo vivido, não há “ou”.
São
várias idades contidas numa frequência cardíaca ininterrupta.
Você chegou a uma idade gloriosa, a idade de entender que não existe perda, só
ganhos.
Não existe envelhecimento, e sim desenvolvimento constante.
O tempo não passa, ele está sempre conosco.
O novo não ficou para trás, ao contrário, o novo está adiante:
na vida que ainda está por vir.
Martha Medeiros